terça-feira, 27 de maio de 2014

RÁDIO PENITENCIÁRIA

     Durante uma conversa com a professora de rádio, na Universidade Metodista de São Paulo, um grupo de oito alunos do curso de jornalismo teve uma ideia: criar uma rádio comunitária dentro de uma penitenciária. O que era para ser apenas um trabalho de faculdade acabou transformando-se num projeto pioneiro dentro dos presídios brasileiros. Em setembro do ano passado, o programa Rádio Espaço Livre estreou nos alto-falantes da Penitenciária Feminina da Capital (PFC), na zona norte de São Paulo. Sem patrocínio nem apoio da universidade, os estudantes tiraram do próprio bolso os cerca de 5 mil reais para comprar os equipamentos. “Ninguém acreditava no projeto e não confiava no público para o qual ele se destinava”, afirma Gabriela Araújo, uma das idealizadoras.


     Com o objetivo de entreter, educar e levar informação para as mulheres que estão atrás das grades, o Rádio Espaço Livre é coordenado por 15 detentas. Atualmente, a PFC abriga por volta de 658 mulheres. Elas são responsáveis por tudo: da programação e confecção das reportagens à locução e transmissão do programa. A atual diretora do presídio, Ivete Barão de Azevedo Halasc, foi uma das primeiras entrevistadas. “Elas fizeram uma série de questões sobre minha gestão e os projetos em andamento”, afirma. Reportagens sobre saúde, cultura e astrologia também estão na pauta. Três das doenças mais comuns entre as detentas, a Aids, a tuberculose e a leptospirose são assuntos recorrentes, sempre com a participação de algum médico especializado. No quadro “Caça-talentos”, as outras internas são convidadas para cantar, contar piadas ou contar suas histórias. É um sucesso. Mudanças no comportamento das participantes da rádio também foram percebidas. “Antes extremamente agitadas e briguentas, algumas tornaram-se mais pacíficas e sociáveis”, salienta Gabriela. Segundo a diretora, a idéia dos estudantes estimulou a integração das detentas, a leitura crítica por parte delas dos meios de comunicação, a cidadania, o resgate da auto-estima, o crescimento individual, a criatividade e o trabalho em equipe.

     O projeto teve início da seguinte maneira: os estudantes coordenavam uma oficina quatro vezes por semana durante duas horas diárias. Após a conclusão da primeira parte, as participantes receberam um certificado de conclusão na Oficina de Capacitação em Rádio, expedido pela Universidade Metodista. Agora, os recém-formados jornalistas visitam o presídio duas vezes por semana, e as internas se tornaram mais independentes para conduzir a transmissão. O sucesso é tanto que a população da cadeia pede que os programas aconteçam mais vezes e sejam mais longos. Atualmente tem duração de 45 minutos e é transmitido uma vez por semana no horário do almoço. “A imagem que a mídia nos passa das penitenciárias não é nem um pouco agradável. Quando você entra lá, é completamente diferente do que espera encontrar”, esclarece Gabriela. Além deste, em Manaus (AM) existe um projeto semelhante, porém ainda está em tramitação na Secretaria de Cultura e de Justiça do estado.


Fonte: Revistatpm por Clarrissa Vasimon 
acessado em 06/05/2013 as 09h16min.