terça-feira, 22 de outubro de 2013

CULTURA QUE ULTRAPASSA OS MUROS DO PRESÍDIO

PENITENCIÁRIA "TENENTE PM JOSÉ ALFREDO CINTRA BORIN"

         Mais uma Semana Cultural foi realizada com sucesso na Penitenciária “Tenente PM José Alfredo Cintra Borin” (PI) de Reginópolis. Com o tema “Meu Brasil é esse sim Sinhô”, a quarta edição do evento ocorreu entre os dias 10 e 19 de julho. O local foi visitado por 417 reeducandos, um aumento de 22% em relação ao ano passado. Servidores das unidades prisionais de Bauru, Marília, Balbinos e da PII de Reginópolis também estiveram presentes. 

         O tema da feira foi trabalhado durante todo o primeiro semestre do ano, junto aos presos que frequentam as aulas na penitenciária. “Buscamos trabalhar o Brasil e suas regiões de várias formas lúdicas, para provocar interesse, aceitação e participação de nossos alunos, libertando a mente enquanto o corpo está preso”, explicou o diretor de educação da PI, Jean Paulo Silvan da Silva.

         Durante a abertura oficial do evento, a diretora da penitenciária, Edenir Isabel Ferreira de Nogueira, discursou sobre a educação intramuros: “A escola é um espaço de liberdade sim, liberdade intelectual, cultural, do pensamento, onde o ir e vir do conhecimento está sempre liberado”.

         Estiveram presentes várias autoridades do município e região, como o Coordenador de Unidades Prisionais da Região Noroeste (CRN), Carlos Alberto Ferreira de Souza; o diretor do Grupo Regional de Ações de Trabalho e Educação (Grate), Janser Ricardo Gonçalves; o Promotor de Justiça da Vara de Execuções Criminais (VEC) de Bauru, Luís Carlos Gonçalves Filho; a Secretária de Cultura de Reginópolis, Elaine Cristina de Oliveira e a primeira dama do município, Silmara de Souza Bastos, que visitaram todos os espaços da feira e assistiram à peça “Um diálogo do tamanho do Brasil”, apresentada por reeducandos da unidade.


         Durante a semana foram expostas maquetes confeccionadas pelos presos, que representavam cada região do país. Também foram abertas salas de jogos, construção literária e artística, exposição do acervo da penitenciária e desenvolvidas atividades ligadas aos projetos Teia, Tocando em frente, Em Cartaz e Grupo de Teatro Reação em Cadeia. (Veja descrição dos projetos no final da matéria).


         O reeducando Alexandre Silva Teles participou do evento como aluno, integrante do grupo de teatro e expectador. “Me senti por alguns momentos como se eu estivesse livre, porque estava fazendo o que eu gosto, que é cantar e tocar violão. Meus familiares ficaram felizes em saber que estou disposto a mudar de vida e aproveitando o tempo recluso de forma positiva”, contou. Teles deu muitas risadas durante a apresentação teatral e avaliou a Semana Cultural como um marco em sua passagem pelo presídio. “Participar da feira do livro foi para mim muito mais que um aprendizado, foram momentos que vou levar para minha vida. Nunca imaginei que eu fosse viver uma situação como essa dentro de uma penitenciária”, ressaltou.


         Sentenciados pegaram emprestados cerca de 200 livros durante o evento; ano passado chegou a 145. O aumento no número de empréstimos é ainda mais significativo, se comparado a uma semana comum na unidade, em que são retirados da biblioteca em média 30 títulos. Além disso, para incentivar ainda mais a leitura – a principal proposta do projeto – todos os reeducandos que compareceram à feira ganharam uma obra de autor nacional.


         O projeto também recebeu muitos elogios das visitas externas. “Não podia aposentar sem participar de um evento igual a este. O que presenciei aqui só reforça meu pensamento de que não existe aluno difícil ou limitado; o que vi aqui servirá de exemplo para minha escola e para minha vida”, comentou Carolina Veríssimo, diretora da Escola Estadual Carlos Corrêa Vianna, localizada em Reginópolis. “Gostaria de ver projetos dessa qualidade, não só nas escolas dos presídios, mas sim, em toda a rede”, disse o supervisor de ensino de Bauru, Claudio Moreira.


         A diretora Edenir também fez questão de ressaltar o sucesso da parceria entre as Secretarias da Administração Penitenciária (SAP) e da Educação (SEE), na inserção de docentes da rede pública estadual nas salas de aula dos presídios. “Essa é a primeira feira que fazemos em conjunto com a SEE. Imaginem a próxima”, disse, após parabenizar e agradecer a todos os presentes.

Projetos aplicados durante a Semana Cultural

Projeto “Teia”: desenvolvido há três anos na penitenciária, é basicamente uma “roda de leitura”, onde um texto base é apresentado aos alunos, que são provocados a escolher uma palavra-chave. A partir dessa escolha, os membros da roda começam a tecer, como uma teia, um novo texto. É a construção coletiva do conhecimento. Para a Semana Cultural, os textos utilizados eram pertinentes ao tema “Meu Brasil é esse sim Sinhô”, como obras folclóricas, regionais, literatura de cordel e textos históricos do Brasil.

Projeto “Tocando em frente”: desenvolve aulas de violão para os alunos e incentiva a composição musical. Tomando como referência o tema da Semana Cultural, neste ano escolheram-se músicas regionais, cantigas de roda, MPB entre outras, que vão do popular ao erudito. No evento, os reeducandos tocaram “Aquarela” (Toquinho/Vinícius de Moraes), ”Brasileirinho” (Waldir Azevedo), entre outras composições.


Projeto “Grupo de Teatro Reação em Cadeia”: formado neste ano com o objetivo de realizar apresentações teatrais em datas cívicas e comemorativas, envolvendo os alunos no mundo das artes cênicas. Na Semana Cultural, o grupo apresentou aos visitantes o jogral “Meu Brasil é esse sim Sinhô” (Sergio Reis), o monólogo “Pedro pedreiro” (Chico Buarque de Holanda) e a peça “Um diálogo do tamanho do Brasil” (texto adaptado).


Projeto “Em Cartaz”: visa apresentar obras cinematográficas pertinentes às aulas ministradas pelos professores da escola. Quando determinada turma assiste a um filme e o resultado é positivo, ele fica “em cartaz” para que alunos de outros horários de aula possam assistir. Durante a Semana Cultural foram exibidos os filmes nacionais “O palhaço” e “O alto da compadecida”.


Fonte: SAP
acessado em 01/102013 
as 14h44mim