sexta-feira, 20 de setembro de 2013

MUDANÇAS NA COMUNICAÇÃO

             Devido ao grande número de agentes penitenciários entre os habitantes, a cidade de Itirapina viu que os muros das prisões não impedem que haja comunicação entre os detentos e a comunidade. Os acontecimentos das duas prisões são assuntos nas reuniões de família e de amigos. Por isso, os moradores da “cidade penitenciária” apresentaram o vocabulário também influenciado pela presença dos presídios. Um 
exemplo é o “jumbo”, palavra usada para definir a sacola de mantimentos que os parentes dos presos levam em dias de visita. Outra palavra comum na cidade é o “bonde”, comboios de viaturas de polícia e furgões onde são transportados presos para os locais, como por exemplo, numa audiência no fórum municipal ou numa transferência para outra unidade prisional. Sabaini ainda faz uma ressata que “não precisa ser parente de preso ou de agente. Muitos não possuem ligação direta com esses atores sociais, mas sabem o que significa cada palavra”.

             A frequente presença destes “bondes” tem alterado também o cotidiano da cidade de Itirapina. A pesquisa mostrou que “se, na época da construção da penitenciária II, muitos se assustavam com as sirenes e giroflex de viaturas policiais entrando e saindo das cadeias, hoje em dia isso é apenas mais um detalhe da paisagem urbana”. Sabaini começa sua dissertação de mestrado Uma cidade entre presídios: ser agente penitenciário em Itirapina-SP descrevendo o contraste entre a serenidade do ambiente do município e a agitação promovida pelas cadeias.

             Por decorrer de uma política pública estadual paulista, o caso de Itirapina não é isolado. O antropólogo explica que o governo de São Paulo passou a desconcentrar os detentos da capital depois da desativação da antiga Casa de Detenção de São Paulo, o “Carandiru”, principalmente durante a década de 1990, e opina: “temos de atentar para o fato de que a construção desenfreada de unidades prisionais está mudando a rotina de pequenas cidades do interior paulista. Não é um dado positivo que esteja surgindo uma nova classe que agrega valores vindos da prisão e tem seus vencimentos oriundos de um sistema prisional opressor e degradante.“

             A dissertação de mestrado foi orientada pela professora Ana Lúcia Pastore Schritzmeyer e defendida em setembro de 2012 na FFLCH.

Fonte: USP