sexta-feira, 20 de setembro de 2013

AGENTE PENITENCIÁRIOS

Agentes penitenciários do interior de São Paulo são tema de pesquisa na FFLCH
Lara Deus/ Agência USP de Notícias

          A interiorização de presídios no estado de São Paulo está causando a formação de uma nova categoria social em pequenas cidades. O prestígio em ser um Agente de Segurança Penitenciária (ASP) nessas localidades faz com que a profissão seja almejada por jovens e é alvo de um estudo da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.


          O antropólogo Raphael Sabaini fez sua pesquisa a partir da realidade do município de Itirapina, localizado na região central do Estado de São Paulo, a 220 km da capital, que tem cerca de 15 mil habitantes e abriga 3 mil detentos em suas duas penitenciárias. A dissertação de mestrado foi feita pelo método da observação participante, pelo qual Sabaini acompanhou o cotidiano dos moradores e da cidade, segundo ele, tentando “etnografar cada detalhe cotidiano, cada diálogo”.

          As diferenças entre a influência que um agente penitenciário exerce em cidades maiores e naquelas pequenas que abrigam presídios foram motivação para Sabaini escolher o tema da pesquisa. Ele indagou “como uma profissão que é vista nos grandes centros urbanos como um emprego perigoso e até como subemprego, poderia ganhar este nível de destaque entre as pessoas de uma pequena cidade?“. No momento do estudo, o antropólogo notou que muitos enxergavam a profissão como uma maneira de crescer e de adquirir bens, como casa e automóvel.

          O objetivo inicial do trabalho foi entender o prestígio da carreira de agente penitenciário na cidade, que fica entre dois presídios, além de detectar as mudanças que ocorreram após a construção deles. No decorrer da pesquisa, porém, o antropólogo também decidiu analisar a influência das prisões nos laços sociais da cidade, tanto no âmbito familiar, quanto no da amizade. Para isso, ele fez “trabalho de campo no único supermercado da cidade, na única escola estadual, e com alguns comerciantes, pois precisava saber, sob a ótica desses demais atores sociais, como eles viam os ASPs.”

          Depois do trabalho, muitas hipóteses iniciais foram confirmadas e explicadas. A aceitação da construção de uma segunda penitenciária, em 1998, foi absorvida aos poucos pela comunidade do município, pois os habitantes foram incorporando a rotina das unidades prisionais à da cidade. “Muitas pessoas afirmaram estar ‘adaptadas’”, ressalta o pesquisador. Sabaini revela também que o prestígio dos agentes penitenciários foi comprovado e que eles chegavam obter privilégios no comércio local e eram eleitos em cargos políticos. Outra conclusão é a de que gírias e expressões usadas pelos detentos eram proferidas também no cotidiano da cidade, sendo os agentes penitenciários grandes responsáveis por este fenômeno.

Fonte: USP