terça-feira, 9 de abril de 2013

ABRIGAR PRESO

Para Balbinos, abrigar presos foi um mal necessário.

         Edna Carneiro, de 43 anos, viu o risco que os três filhos corriam ao conviver com a violência paulistana. No fundo, temia que terminassem como o marido, que cumpre 13 anos de prisão. Fez as malas e mudou-se com a família para Balbinos, no oeste paulista.

       Descobriu que tem tudo para recomeçar a vida. 

         Como ela, mulheres de presos estão se mudando para o interior. ‘Aqui é tranquilo, não tem marginal, não tem violência. Tá tudo preso, né?’, graceja.

         Balbinos viu os imóveis sofrerem uma súbita inflação. O aluguel de uma casa de três quartos dobrou, de R$ 200 para R$ 400. E há aqueles, como a dona da padaria, Luzia Cecília Guandalin que comprou quatro casas, num bairro hoje apelidado de Itaquera, para alugar.

          ‘O presídio é viável, fez bem à cidade, mas falta melhorar o resto, porque não tem banco, farmácia ou hospital decente. ‘

            Sorte dono do Serv. Bem. O supermercado existe há 15 anos, mas até antes do presídio Ito, como o microempresário é conhecido, só tinha um carro, ‘um Gol quadrado’. Hoje têm outros três novos. Seu comércio é o posto de abastecimento para as mais de 200 visitantes. ‘Como comerciante, melhorou muito, mas não digo pelo resto da cidade. A maioria do povo brasileiro é preconceituoso, e não vê que se estão presos é porque estão pagando pelo crimes. ‘

         Nos fins de semana, as mulheres de presos lotam Balbinos. Elas gastam entre R$ 100 e R$ 200. Montam na cidade o ‘jumbo’, formado de alimentos, refrigerantes, cigarros e produtos de limpeza. E têm de cozinhar nas pousadas, que oferecem fogão a R$ 3, jantar a R$ 5 e cama a R$ 15. A maioria vem de excursão, cuja passagem de ida e volta custa R$ 70 para quem parte de São Paulo.

         Antes do presídio, Balbinos só encolhia. Chegou a ter quatro mil habitantes, mas com o declínio do café, o êxodo rural prevaleceu. O prefeito do (PSDB) e os vereadores acharam que abrigar presos poderia deter a debandada. ‘Era um mal necessário’, que no ano que vem, ao deixar a prefeitura, pode assumir sua vaga de agente penitenciário em Reginópolis. E.N.